A tranquilidade do desatualizado

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Em julgamentos presenciados em vários pretórios, tenho ouvido uma preocupante manifestação: “Ainda não pude aprofundar os estudos sobre a matéria. Por enquanto, continuo decidindo como o venho fazendo, embora reconheça haver bons argumentos em contrário. Voltarei a me debruçar sobre o tema, futuramente…“.

Ora, desde quando a falta de tempo para estudar e meditar pode servir de desculpa para manter a rotina?

Em outros casos, diante de bem-articulados argumentos do relator do processo, ouve-se uma manifestação comodista e pouco convincente, semelhante a uma complacente concessão: “Então…, acompanho o ilustre colega“.

Quem assim se manifesta, tem pouco apreço pela justiça substancial; vota como se fizesse uma simples cortesia ao companheiro de julgamento, numa postura verdadeiramente concessiva. Lá no íntimo, pensa com seus botões: “Os argumentos são fortes, embora eu permaneça em dúvida. Como meus motivos para discordar estão insuficientemente estudados e pouco solidificados, tenho pálidos argumentos em contrário; a melhor solução é acompanhar…“.

Surge então uma indagação terrível: e vier a descobrir, no futuro, a verdadeira solução justa, quantas partes já teriam sido prejudicadas pela antiga posição? Esta era mantida apenas por falta de meditação, pela carência da devida preocupação e do necessário estudo!

Sem dúvida, a tarefa de julgar é árdua, exigindo extrema responsabilidade, desprendimento e amor à justiça.